quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O dia em que levámos os patos a tomar banho


Durante muitos anos os meus pais criaram galinhas, patos e coelhos.Nessa altura, há muitos anos atrás, quase toda a gente tinha "criação"porque era uma forma de "ter acesso" á carne e ovos.

Como a agricultura estava na "massa do sangue" de ambos, tambem "amanhavam" umas terras, de renda, claro - as suas ficaram na Argentina á espera do seu regresso que nunca aconteceu -

Uma destas terras ficava á beirinha do Rio Mourão em Maceira - Pero pinheiro. Ali eles cultivavam de tudo : Milho, trigo, grão de bico, feijão verde e carrapato, batatas, cenouras, pimentos, tomates, alho francês, cebolas, alhos, abóboras, melancias, melões, meloas, morangos, couve tronchuda e portuguesa, e... amendoim... que mais ninguem cultivava... e, flores, todo o tipo de flores, lindíssimas! E, plantaram um grande pomar, onde havia muita ginja e cereja.

Ora, para regar tudo isto, o pai fez um açude, ou represa, no rio, onde juntava bastante água que tirava primeiro com uma "picota" (sistema árabe) e depois com um motor. Um belo dia em que os nossos pais saíram, eu e o meu irmão (o Serafim) estávamos no pátio a olhar para os patos e, eis senão quando, um de nós, não recordo bem se eu ou ele, se lembrou de que era uma boa oportunidade para pôr-mos em prática a caridade cristã, de que o nosso pai nos falava de uma forma sistemática nos cultos domésticos diários, levando os patos a consolarem-se , naquele dia de imenso calor, tomando uma boa banhoca no rio, na represa. Se bem o pensámos, melhor o fizemos! Toca de agarrar os patos (só podíamos levar dois) e metemo-los dentro de um saco de linhagem e com eles ás costas lá vamos nós a caminho do rio. Uma vez chegados, abrimos o saco e...atirámos os patos para a água com um sentimento de uma enorme alegria e bondade!Deus devia estar muito contente conosco pois estávamos a fazer uma boa acção! Claro que os patos estavam felicíssimos e mergulhavam contentes as cabeças na água e faziam muito alto: Quá quá quá...quá! Sentámo-nos á beira do rio a deliciar-mo-nos com a felicidade dos patos e com o nosso coraçãozinho muito tranquilo e feliz. O pior estava para chegar! Começa a anoitecer, os nossos pais deviam estar achegar a casa e nós por ali com os patos.A questão era: como os vamos tirar da água!? eles não queriam sair nem por nada!

A água era funda e nós não podíamos entrar e, ainda por cima havia lá sanguessugas...com quem já tínhamos tido más experiências...Foi então que nos lembrámos de arrancar uma cana comprida e enxotar os patos para os encaminhar para a beira do rio; só que eles não obedeciam, naturalmente. Depois de muita tentativa para os fazer sair, e já com a paciência esgotada, eu, viviana, dou uma cacetada com a cana na cabeça dos bichos e eles desmaiam e eu com a cana puxo-os para terra. Foi a forma , pouco cristã que encontrámos para resolver o assunto. Puzemo-nos a caminho e logo depois os patos voltam a si e aí vamos nós. Uma vez chegados lá, com os meus pais já em casa, delineámos uma estratégia para pôrmos os patos no sitio sem os nossos pais darem por isso; e conseguimos: eu entrei pela porta de casa, falei com os meus pais e disse que vinha da horta, entretanto fui ao pátio abrir o portão ao meu irmão e lá puzemos os patos no galinheiro ao pé dos outros que já estavam a dormir. E pronto, estava concluida a nossa aventura; nunca ninguem desconfiou do acontecido, claro que mais tarde contámos tudo aos nossos pais e eles nem queriam acreditar no que nós nos lembrámos de fazer.Eu, cá por mim, acho que foi uma linda aventura e sorrio sempre que me lembro ou falo nisso.

1 comentário:

José Leal disse...

História muito bonita, a lembrar as aventuras de Tom Sawyer e Huck Finn.

Andar com patos às costas.