quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A minha sentida homenagem ao Pinhal do Rei - ou - Pinhal de Leiria


 Pinhal de Leiria. Foto tirada na zona de Vieira de Leiria pelo fotógrafo - Carlos Pedrosa
       
Hoje, Manuel Alegre, publicou no Diário de Notícias o seguinte: 

«Sete séculos depois ardeu o pinhal de D. Dinis, o das "naus a haver", morreu o verde pinho do rei poeta. Dá vontade de chorar e não consigo ficar calado. »

Quanto a mim, cresci embrenhada no meio da caruma e das pinhas do pinhal de Leiria.

Apanhei, e saboreei, muitas camarinhas - um pequeno fruto branco agridoce que crescia nos pinhais,  junto ao mar.

Vivi perto do pinhal de Leiria, desde os sete aos 19 anos, e nunca houve qualquer fogo.
O pinhal nunca ardeu.

Agora, foi com muita tristeza  e uma enorme dor...como o Manuel Alegre, com vontade de chorar e não me calar, que  soube que oitenta por cento deste precioso pinhal foi devorado pelo fogo.

Nestes últimos dias, muitas têm sido as pessoas que vêm a este blogue, ler o poema "O Pinhal do Rei", que aqui publiquei  no dia 18 de Dezembro de 2014, como a minha sentida homenagem ao Pinhal de Leiria e ao grande e saudoso poeta leiriense - Afonso Lopes Vieira.
 
 Ofereço-o aos amigos que por aqui passarem.

Ei-lo:


PINHAL DO REI

Catedral verde e sussurrante, aonde
a luz se ameiga e se esconde
e onde ecoando a cantar
se alonga e se prolonga a longa voz do mar,
ditoso o Lavrador que a seu contento
por suas mãos semeou este jardim;

ditoso o Poeta que lançou ao vento
esta canção sem fim...

Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
são as caravelas, teu corpo cortado,
é lo verde pino no mar a boiar,

Pinhal de heróicas árvores tão belas
foi teu corpo e da tua alma também
que nasceram as nossas caravelas
ansiosas de todo o Além;
foste tu  que lhes deste a tua carne em flor
e sobre os mares andaste  navegando,
rodeando a Terra e olhando os novos  astros,
oh gótico Pinhal navegando,
em naus erguida levando
tua alma em flor na ponta  alta dos mastros!...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal  florido,
que grande saudade, que longo gemido
ondeia nos ramos, suspira no ar.

(Afonso Lopes Vieira)

2 comentários:

Rosa disse...

Olá viviana.


«Sete séculos depois ardeu o pinhal de D. Dinis, o das "naus a haver", morreu o verde pinho do rei poeta. Dá vontade de chorar e não consigo ficar calado. »



É isso mesmo, dá vontade de chorar...

E não só por este pinhal, mas por tantos e tantos que desapareceram, simplesmente.


Pobre planeta, pobre das gentes que sofreram e sofrem na pele e na vida esta miséria.


Viviana, desejo-vos uma noite tranquila.


Abraços.

Viviana disse...

Querida Rosa

Que desgraça em Portugal aconteceu!
Conforme os dias vão passando, mais consciência tomamos da tamanho da dor...

Que o bom Deus, de nós, tenha misericórdia.
Um abraço, boa amiga
Viviana