quarta-feira, 14 de maio de 2008

Para que conste...


Por vontade de Deus, exerci a profissão de Enfermeira durante trinta e tal anos.


Tirei o meu Curso na Escola de Enfermagem do Hospital de Santa Maria, (hoje Escola de Enfermagem Callouste Gulbenkian).

Matriculei-me no ano lectivo de 1961, em plena vigência do regime de Salazar e do Cardeal Cerejeira.


Na minha ficha de inscrição, entre as várias coisas, constava a minha religião: Evangélíca Baptista. Mas vim a saber depois, que em todos os documentos da Escola, inclusive na minha Ficha de Curso que foi enviada para o Instituto Maternal, onde trabalhei muitos anos, eu constava como “Protestante”.


Do currículo do curso faziam parte as aulas de Religião e Moral Católica.

Não sendo católica, achei por bem ir falar com a Monitora Chefe, Enfermeira Moniz Pereira, a fim de me isentar da frequência dessas aulas, naturalmente.

Para meu espanto foi-me dito que a frequência ás aulas de Religião e Moral Católicas, era OBRIGATÓRIA.


Tentei explicar que não estava certo, porque eu não era católica, que era Evangélica Baptista, etc. etc., mas sem resultado.

Contrariada e revoltada… lá me sentei no meu lugar e assisti a todas as aulas.

Claro que a matéria das aulas não tinha nenhum interesse para mim, como poderão imaginar; mas como se isso não bastasse…ainda tinha que ouvir tudo quanto o professor – Padre Dr. Aguiar – Director do Colégio Universitário Pio Xll – se lembrava de dizer “contra os protestantes”.

Ainda tentei ripostar, mas fi-lo apenas uma ou duas vezes, porque fui tão desconsiderada e maltratada por ele, que achei que o melhor mesmo era ficar caladinha.

Um belo dia, quando ele falava da Sagrada Escritura, a minha colega do lado ,Teresa Gonzalez, uma grande amiga minha, perguntou-lhe porque é que “os protestantes liam a Bíblia e os católicos não (ela era católica).

Com um riso escarninho o Padre respondeu textualmente:

“Um protestante a ler a Bíblia, é precisamente a mesma coisa, que um burro a olhar para o Mosteiro dos Jerónimos, não percebe nada da arquitectura.”

11 comentários:

Maria disse...

Protestantes (como ainda hoje somos designados, nesse grande e diverso grupo que são os evangélicos), mas protestantes graças a Deus!
Também tive essa experiência desde a instrução primária (já escrevi acerca disso) e, apesar de achar que se deviam separar as águas do estado (ensino escolar) e da religião (educação no lar e na igreja), já se deram alguns pequenos passos para a liberdade.
Obrigada por ter lembrado esses tempos, pois já ouvi jovens (com responsabilidades na nossa comunidade) alegarem que, no nosso país, nunca ouve perseguição religiosa.
Beijos.

Pedro Leal disse...

Hoje de certeza que não usam essas palavras, e a consideração (recíproca, digo eu), é claramente diferente. Mas não podemos esquecer que este é um ponto fundamental na separação entre católicos e protestantes. Os católicos não podem, à luz da sua doutrina, ler a Bíblia sozinhos. Ela tem que ser interpretada de acordo com Tradição. Ou seja, na prática, acima da Bíblia está o Catecismo (que é, entre outras coisas, a interpretação correcta, para os católicos, das Escrituras).
Às vezes, em nome de uma maior aproximação, parece que se quer fazer esquecer estas diferenças fundamentais. Não temos que estar de costas voltadas, mas também não devemos, em nome da proximidade a todo o custo, fingir que os fossos profundos não existem. Transparência, acima de tudo.
Outro ponto importante é a preservação da memória. Nós, portugueses, não temos grande cuidado com ela. Mas a verdade é que só com memória se pode progredir. Estas pequenas histórias devem ser gravadas, não para alimentarmos o nosso rancorzinho de estimação, mas percebermos quem somos e de onde viemos.

BC disse...

Bom dia VIVIANA!
É evidente que isso foi puro racismo,as pessoas não se vêm, pela cor, pela religião e outras coisas mais.Somos todos iguais aos olhos de Deus.
HÁ QUE RESPEITAR A DIFERENÇA...
Sorrisos para si amiga!

Lou H. Mello disse...

Afinal, como é a arquitetura do mosteiro?

Viviana disse...

Olá Mimi,

Pois, naturalmente que terá passado por situções idênticas...

Tantos e antos em Portugal passaram!

Graças a Deus parece que as coisas vão melhorando, como diz.

um grande e carinhoso abraço

viviana

Viviana disse...

Olá filhote!

Tens razão.

Não podemos fazer de conta que é tudo a mesma coisa! Pois não é!

Respeito, estima, amor cristão... mas, por algum motivo nós chsamamo-nos Cristãos Evangélicos Baptistas.

E temos pago um preço alto por o sermos...

Mas, A Deus toda a´Glória, Todo o Louvor e toda a Adoração!

Nós, somos os seus filhos muito amados e Ele o nosso Mestre, Senhor e Salvador.

um beijinho

mãe

Viviana disse...

Olá Isabel,

Tem toda a razão.

Somos todos iguais e temos o mesmo valor para o Senhor Deus.

Estas "diferenças" são próprias dos homens.

Mesmo muitas vrezes de homens que se arrogam de serem cristãos!

Mas, ser cristão, é ser semelhante a Cristo!

Então, "pelos seus frutos os conhecereis", disse o Senhor Jesus .

Obrigada pela sua visita

um beijinho

Viviana

Viviana disse...

Olá Lou,

A arquitectura do mosteiro dos Jerónimos é do Estilo Manuelino.

Consegui!

Afinal não sou tão burra assim!


A propósito, se por acaso ler este comentário, de-me o seu e-mail, pois eu andei porurando no seu blog mas não encontrei.

È que queria enviar-lhe uma coisa.

Fique bem, fique com Deus
viviana

Paulo Costa disse...

"A verdade não é minha nem tua, para que possa ser tua e minha." - Santo Agostinho

Flor disse...

Olá Irmã Viviana! :)

Sermos cristãos, é sermos semelhantes a Cristo....

Eu sou Evangélica simplesmente... sou discipula do Senhor Jesus, meu Mestre, meu Senhor e suficiente Salvador.... não entendo, nem nunca entenderei,porque existem denominações?!!!...

Bom fim-de-semana querida irmã :)

Flor

Unknown disse...

Olá dona Viviana :)

Há algum tempo que acompanho o seu blog, cujo titulo logo me cativou, pela originalidade do conjugar imperativo de um verbo que nos abre os olhos para algo que tantas vezes nos passa ao lado.

Hoje porém, e apesar de a conhcer apenas por aquilo que escreve, não quis passar sem deixar uma palavra amiga.

Se calhar são palavras retóricas e confusas, espero que não.

Em tudo o que escreve revejo o meu Deus. No entanto, de nome, não professo a mesma religião que a Senhora. Mas o Deus é o mesmo. Eu sei que é!:)
Teoricamente, sou da familia do padre que não a soube respeitar. Na pratica, tento não ser fechado ao ponto do julgamento. Gosto de ouvir e aprender.

E escrevo isto, porque eu sei que juntos, podemos fazer um bom trabalho. Sem descriminações ou racismos.
Alguma vez ouviu falar de Taizé? :)

Um abraço amigo.
André