sexta-feira, 9 de abril de 2010

MÃE - Almada Negreiros


Almada Negreiros

Mãe!

Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. depois venho sentar-me ao teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos ás minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. como a mesa.Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! Passa a tua mão na minha cabeça !
Quando passas a mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

("Mãe" in Rosa do Mundo - Assírio & Alvim, Lisboa 2001)

4 comentários:

Rosa disse...

Um poema "para mim" um pouco difícil de descodificar, mas sem duvida que interessante.

Viviana, boa noite e bom fim de semana.
Beijos

Pelos caminhos da vida. disse...

A amizade é como um navio no horizonte.
Nós o vemos, cortando contra o céu,
e em seguida ele avança,
desaparece de vista,
mas isto não significa que não continuará.
Essa amizade é linear.
Ela se move em todas as direções,
nos ensinando sobre nós mesmos
e sobre cada um de nós.
É por isso que no transcurso de fortes amizades,
estaremos presentes um para o outro,
mesmo que, nem sempre,
estejamos visíveis.

( Shirley Maclane ).

Obrigada pela sua.

Fim de semana de luz.

beijooo.

Viviana disse...

Querida Rosa

Entendo-a, boa amiga.

Os poetas e escritores nem sempre são faceis de descodificar...

Mas...encontrei palavras tão belas e significativas em relação ao carinho e confiança que tinha para com a sua mãe...que não resisti a publicá-lo.

um abraço, boa amiga

viviana

Viviana disse...

Querida Ana, linda!

Muito bonito este texto:

Gostei muito.

É mesmo assim...

um abraço carinhoso

viviana