sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Artigo do Embaixador do Reino Unido ao deixar Portugal


O embaixador Alexander Wykeham Ellis

O embaixador do Reino Unido em Portugal, Alexander Wykeham Ellis, acaba de terminar o seu mandato e, ao deixar Portugal apresentou "Dez coisas que nunca deverão mudar em Portugal."
Está colocado em Portugal desde Setembro de 2007, mas já antes esteve na Embaixada de Lisboa entre 1992 e1996. É casado com uma diplomata portuguesa - Maria Teresa Adegas de quem tem um filho.

Artigo do Embaixador do Reino Unido ao deixar Portugal

Coisas que nunca deverão mudar em Portugal

Portugueses: 2010 tem sido um ano difícil para muitos; incerteza, mudanças, ansiedade sobre o futuro. O espírito do momento e de pessimismo, não de alegria. Mas o ânimo certo para entrar na época natalícia deve ser diferente. Por isso permitam-me, em vésperas da minha partida pela segunda vez deste pequeno jardim, eleger dez coisas que espero bem que nunca mudem em Portugal.
1. A ligação intergeracional
. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade, para o benefício de todos.
2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc, tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.
3. A variedade da paisagem. Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.
4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.
5. O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.
6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.
7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.
8. As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.
9. A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um pais ligado, e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.
10. Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.
Então, terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços.
Feliz Natal.

6 comentários:

Fernanda M. Mesquita disse...

Gostei das coisas boas e simples a que ele se agarrou. ainda hoje eu vinha a comentar com a minha filha, no passeio que fizemos a pe', que nao existe pais melhor para se viver e sentir a vida do que portugal. ele oferece-nos muitas belezas naturais. a comida e' da melhor, e tenho pena se isso se perder, porque existem paises onde se come muito mal, por exemplo aqui. por isso procuro sempre alimentos europeus, de preferencia portugueses e cozinho com muito prazer a nossa comidinha. e' das coisas que mais gosto de fazer : cozinhar e acho um desperdicio nao aproveitar as coisas boas que a terra nos da ou estraga-las com molhos e coisas instantaneas. ( que me desculpem os adeptos desse tipo de alimentacao). gostei desta reportagem
fernanda

Unknown disse...

Concordo plenamente mas tenho medo que as coisas mudem.

Abraço e bom fim de semana

Viviana disse...

Olá Fernanda

Sabe que este embaixador com a esposa, portuguesa, cultivava uma horta nos jardins da embaixada?
Era lá que colhia as verduras para as refeições.

Também viajava por Lisbos de bicicleta.
Ele gostava muito de Portugal

Portugal é na verdade muito lindo.
A variedade de paisagens e lugares que por aqui há...

Claro que concordo consigo quanto á comidinha.

Oxalá haja o bom senso de procurar manter estas coisas simples mas fantásticas que nós temos.

Um abraço

viviana

Viviana disse...

Olá Manuel

Sabe que eu também tenho medo?
Ei sei lá...vejo tanta coisas "importada".

Pelo menos que por nós, não mude.

Um abraço
viviana

Orlando Arraz Maz disse...

Já apreciava esse País, mas ao ler as informações do Embaixador, minha admiração cresceu. Parabéns pela inserção deste texto.

Viviana disse...

Olá Orlando

É verdade.

Este inglês afeiçoou-se a Portugal.

Creio que ele soube ver e apreciar as coisas simples e belas que ainda há por aqui.

Um abraço

viviana