quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Doces Lembranças - Um poema de João Apolinário

   O poeta e Jornalista João Apolinário - Fonte da Imagem: http://pt.wikipedia.org

Doces Lembranças

Que doces lembranças
das coisas ausentes
que me apetecem
e trinco nos dentes

Maçãs da infância
criadas ao Sol
com a casca madura
e o bichinho secreto
na ávida boca.

Que viagem de sonho
aos sonhos perdidos
dos cinco sentidos
que agora transponho
dentro da memória.

Que névoa difusa
fronteira de vidro
impede que eu chegue
a tocar com a mão
o que a mão tocou

Que desesperanças
das coisas ausentes
que me apetecem
e trinco nos dentes
da imaginação

Que doces lembranças
das maçãs da infância.

 (João Apolinário - no livro- O Poeta Descalço)

Nota:

Para quem desejar conhecer melhor este autor, aqui deixo os seus dados biográficos:

João Apolinário Teixeira Pinto,nasceu em Belas - Sintra - (mesmo aqui ao lado de Mira-Sintra) em 18 de janeiro de 1924, e faleceu em Marvão a 22 de Outubro de 1988. Foi um poeta e Jornalista português.Combateu o fascismo tanto na  sua terra natal, quanto em seus anos de exílio no Brasil. Colaborou em inúmeras publicações importantes nos dois países. É, no entanto, mais conhecido por seus
poemas, musicados pelo filho João Ricardo e apresentados  pelo conjunto "Secos e Molhados" .

Infância e Formação

 Viveu parte da infância no Vale da Pomba, propriedade familiar em Lebução,  Chaves,  onde fez o curso primário. Depois estudou em Lisboa,  no Colégio Valsassina e no Liceu Camões  e cursou Direito na Universidade de Coimbra e Lisboa.  Mas já surgira a poesia

Jornalista

Aos 21 anos, optando por não advogar, poeta já assíduo da Brasileira do Chiado e jornalista, foi para a França como correspondente da Agência Logos. Viver os terríveis últimos tempos da Segunda Guerra Mundial marcou-o definitiva e cruamente. Depois de alguns anos em Paris  - frequentou Artes Gráficas na Sorbonne  conheceu  Sartre, Simone de Beauvoir. os intelectuais do Café de Flore,  Antonin Artoud, Jean Genet, Marcel Marceou, Ediht Piaf,  viu o teatro de rua de  Henri Gheon- voltou a Portugal. Sequelas de um acidente ocorrido nos únicos quatro meses de prestação do serviço militar no Batalhão de Artilharia Um, de Lisboa, levaram-no a mudar radicalmente os planos, após meses de um tratamento severo em Genebra. Acabou a recuperação na casa da mãe, D. Helena Teixeira Pinto Iniciou a carreira de jurista. Casou-se pela primeira vez, teve dois filhos, João Ricardo e Maria Gabriela. Integrou grupos de intelectuais, poetas e jornalistas. Foi cofundador do Teatro Experimental do Porto e com este o génio e a modernidade de Marcel Marceau e de Jean Genet chegaram ao país.

Exílio

A prática cultural, nunca partidária, de João Apolinário, na poesia, no teatro, no jornalismo, especialmente na crítica e na reportagem; a acutilância de suas ideias antifascistas e não colonialistas, mais acções de real protecção a quem delas necessitasse, resultaram em prisões, torturas e, pior, tempos dolorosos de afastamento dos filhos, João Ricardo,  e Maria Gabriela.
Publicou Morse de Sangue, livro memorizado numa cela subterrânea de Peniche, durante cinco dias e cinco noites; Primavera de Estrelas, O Guardador de Automóveis, A Arte de Dizer. Foi secretário, na delegação do Porto, da  Associação Portuguesa de Escritores, durante a presidência de Aquilino Ribeiro.  Recebeu companhias teatrais brasileiras, como a de Cacilda Becker,    actriz maior em língua portuguesa. Como resultado disso, em 1963, começou a viver o exílio imposto pela polícia política do regime. Partiu para São Paulo   em dezembro daquele ano.
Durante três meses, de Janeiro a Abril, na redacção do jornal Última Hora,  de São Paulo, usufruiu, pela primeira vez, do privilégio da liberdade de expressão e de uma vida diária sem pressões político-policiais. Em Abril de 1964 teve início um período longo de ditadura militar no Brasil. O poeta, jornalista a tempo inteiro agora, voltou a escrever nas entrelinhas. Para não ter seu pensamento alterado por um qualquer director de jornal, mesmo que amigo, suas críticas de teatro, na Última Hora e no jornal O Globo  não foram pagas. Ele assim o decidiu e fez. Assimilou a cultura brasileira. E por ela deixou-se assimilar. Tanto que sofreu ameaças de morte do CCC:  Comando de Caça aos Comunistas. Era nacionalista num país em que foi crime, desde sempre, sê-lo.
Em São Paulo ainda foi editor de artes e chefe de redacção de dois jornais, num período de doze anos. Casou-se pela segunda vez. Viajou pelo país e pela  América Latina: Uruguai, Argentina, Colômbia. Conviveu com intelectuais e artistas num forte novo mundo. Teve amigos chilenos, intelectuais actuantes, mortos pelo regime de Pinochet.

 Fundou, com outros jornalistas, a APCA –  Associação Paulista  de Críticos de Arte. É uma referência incontornável na crítica teatral brasileira por ter o espectáculo como sujeito. Ensaiou uma ideia nova de teatro e não teve tempo de experimentá-la.

Volta

 Houve poesia. Muito do que está contido no Poeta Descalço. Viveu, no dia  25 de Abril de 1974, a enorme alegria, por um tempo breve, sim, mas pode vivê-la, de ver Portugal livre do fascismo. Em Setembro visitou o país. E numa semana de Dezembro escreveu Apátridas, poema exultante e exaltante de sua obra, Integrada em diversas edições da História da Literatura Portuguesa. Em Abril de 1975 voltou a Portugal. Por razões várias, inesperadas, não deixou de ser jurista, como pretendia. Dividiu-se novamente. No entanto, seu trabalho poético cresceu e publicou AmorfazerAmor, Poemas Cívicos, O Poeta Descalço e Eco Húmus Homem Lógico. De 1980 a 1988 escreveu Sonetos Populares Incompletos, ainda inédito. Ser poeta, não poeta bissexto, como dizia, não chegou a sê-lo. A morte surpreendeu-o a 22 de Outubro de 1988, justamente quando havia reencontrado, na vila de Marvão, o silêncio e o tempo para ver mudar a cor das flores.

  ( http://pt.wikipedia.org/)
 

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