Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te
perturbas dentro de mim?
Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação
que há na sua presença
(Salmo 42: 5)
O Ser Humano,
criado no tempo, vive e orienta-se dentro da realidade do próprio tempo. Em
certa medida, a sua identidade é determinada pela forma como se enquadra no
“esquema” dos três momentos: passado, presente e futuro.
Embora os três
momentos estejam essencialmente ligados, existem algumas diferenças quando à
sua avaliação.
Embora o presente
possa explicar o passado, com algum grau de precisão, não o pode fazer em
relação ao futuro, visto que este só se torna uma realidade na medida em que se
transforma no presente.
Contudo, mesmo
tendo a consciência da incerteza do futuro, o ser humano aguarda-lo com
expectativa e com alguma esperança. De um modo geral, quanto mais difícil é o
presente, maior é a expectativa de um futuro melhor. Porém, às vezes, as dificuldades
do presente tendem a obscurecer a nossa visão da realidade, tirando-nos a base
emocional para abraçarmos um futuro melhor.
O autor humano
dos salmos 42 e 43 (que em muitos manuscritos do Texto Massorético são
considerados como um único poema) revela-nos uma das experiências mais
penetrantes da alma e do espírito humanos, evidenciando os três três momentos do tempo,
enquanto um terrível conflito interior o dominava.
O estabelecimento
de um diálogo com a sua própria alma traduz-se num dos exercício racionais mais
profundos para o alcance da verdadeira sabedoria. Esta perspetiva hebreia (ou
melhor, semítica) de análise psicológica é uma das formas de introspeção mais
prescrutadoras do verdadeiro “eu”.
Três vezes o
salmista formula a pergunta: “por que estás abatida, ó minha alma, e por que te
perturbas dentro de mim?” (42: 5,11 e 43:5).
Significa que no momento em que faz a pergunta, ele não se encontra livre de
tudo o que o perturba e o aflige, as dificuldades ainda “estão lá”, os
problemas ainda não foram resolvidos. Contudo, impulsionado pela esperança
de um futuro melhor, que descansa na providência e no cuidado de um Deus
que pode socorrer, este crente piedoso confronta a “sua alma”no sentido de
descobrir as razões do seu pânico e da sua agitação. Que visão da vida nos
transmite o salmista!
O mais
impressionante é o “conselho” que ele dá à sua alma. Por outras palavras, o
salmista diz ao seu “eu” mais profundo que a única solução para a verdadeira
tranquilidade interior é a espera confiante num Deus que auxilia a todos os
contritos e quebrantados de coração, em cuja presença há salvação.
Eis a razão pela
qual o salmista deixara bem explícito, logo no início do seu poema, o maior desejo da sua alma - Deus. Tal como o
catecismo escocês afirma: “o principal propósito do homem é glorificar a Deus e
gozá-lo para sempre”, o salmista deseja usufruir a presença de Deus e
alegrar-se na Sua graça.
Concordo com John
Piper quando afirma que “Deus é mais glorificado em nós quando somos mais
satisfeitos nele”. Aliás, este é o lema que expressa a visão da sua vida e do
seu ministério pastoral.
Ao
terminarmos este ano de 2012, com todos os momentos nele vividos e
prestes a encarar um dos mais conturbados anos da história da democracia
portuguesa (segundo algumas previsões), aprendamos, com o salmista, a dialogar
com a nossa alma, no sentido de ensiná-la a confiar, esperar e a descansar
naquele que conhece, de um modo completo, o passado, o presente e o futuro,
aquele que é o Senhor da História e das nossas vidas, que tranquiliza a alma
inquieta, que auxilia a alma em agonia, cuja presença satisfaz o coração e
outorga salvação. Encaremos o futuro com confiança!
Soli Deo Gloria.
Pr. Samuel Quimputo
IgrejaEvangélica Baptista de Sete Rios - Lisboa
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