Vi-o a primeira vez no verão passado, sentado num daqueles bancos altos, ao balcão de um café, na aldeia onde fica a casa dos meus saudosos pais, e onde eu tinha ido passar uns tempos, para poupar o meu coração doente, que me impedia de subir os três andares que dão acesso aqui á minha casa.
Ele estava a tomar o pequeno - almoço. Havia várias pessoas ali, mas reparei que ele estava só, não vi ninguém falar com ele. Chamou-me a atenção porque tinha um aspecto andrajoso, e um ar triste, muito triste. Reparei que, como as calças estavam subidas por estar sentado, não tinha peúgas ou meias, e os pés estavam arroxeados com o frio da manhã.
Eu estava sentada a uma mesa com o meu marido, e tomava-mos o pequeno - almoço. Quando olhei para ele, alguma coisa de especial aconteceu comigo, de tal modo que senti uma enorme compaixão por ele.
Tomei o pequeno - almoço e saí, mas fui para casa a pensar nele.
No dia seguinte ele lá estava no mesmo lugar.
Ao terceiro dia, 4ª feira, o café fecha para descanso semanal, e nós fomos ao café Central tomar o pequeno - almoço, Só uma nota: ia-mos tomar o pequeno - almoço ao café para o meu marido poder ler o jornal, pois na aldeia não havia lugar de venda.
Era nosso hábito, depois do pequeno - almoço dar-mos uma volta pela aldeia para fazer um pouco de exercício. Naquela 4ª feira quando voltávamos de andar, vimos uma ambulância que levava para o hospital o João (nome fictício), porque se tinha sentido mal de noite com falta de ar.
Uma vizinha disse-me que ele dormia dentro de uma caminoneta velha, lá em baixo num parque de estacionamento de uma empresa.
Quando olhei a ambulância, levantei os meus olhos ao céu e roguei ao Senhor que o acompanhasse e guardasse de todo o mal. ( eu sempre faço isso quando vejo uma ambulância a caminho do hospital)
No dia seguinte, eu entrei no café e contei á proprietária o sucedido na véspera, e estávamos a falar ainda, quando, para nosso espanto, vimos o sr. João a entrar no café, ainda com muita dificuldade em respirar e com muito mau aspecto. Como de costume sentou-se ao balcão e tomou o pequeno - almoço.
Eu, sentada a uma mesa, não tirava os olhos das costas dele e pensava que teria que falar com ele, a fim de ajudá-lo naquilo que eu pudesse.
Quando me levantei da mesa, dirige-me a ele e disse-lhe esta frase, com a minha voz e o meu coração repassados de ternura e compaixão: O senhor está doente, não está?
Nunca irei esquecer aquele momento. Ele levanta os olhos do balcão, suavemente, e com um olhar mais triste do mundo, olha-me no rosto, com uns olhos cor de mel, dos mais lindos que já vi… e responde-me que sim, que está doente. Eu apresentei-me, disse-lhe que era filha da senhora Argentina (era assim que a minha mãe sempre foi conhecida e tratada na aldeia, por ela ter nascido na Argentina) e então, ele esboça um sorriso e diz-me que era muito amigo dos meus pais e que se criou com o meu irmão, de quem sempre foi muito amigo e ainda hoje é. Disse-me então: “Fizeram-me muito mal… tiraram-me tudo…” Creio que ele viu que podia confiar em mim e abriu-se, e falou-me, ainda que por alto, da sua triste e longa história, com os olhos cheios de lágrimas. Eu ouvi-o com toda a atenção, comovida e com o meu coração a arder de compaixão.
Depois de o ouvir, tentei encorajá-lo e criar nele esperança, falando – lhe da misericórdia e amor de Deus, e disse-lhe ainda, que através da oração o Senhor poderia agir e tirá-lo daquela situação triste. Recordo-me que lhe disse que tinha a certeza que a situação iria melhorar, e ele ainda iria voltar a trabalhar, coisa que ele já não fazia há cerca de seis anos. Prometi-lhe que iria orar por ele e iria pedir a todos os meus amigos, irmãos, e familiares, para orarem por ele. Antes de me retirar, apertei-lhe a mão calorosamente.
Fui o mais rápido que eu pude para casa, e nem fui caminhar. Mal entrei em casa, corri para o quarto, ajoelhei ao lado da cama, e numa súplica fervorosa derramei a minha alma perante o Senhor, rogando - lhe com muitas lágrimas que tivesse compaixão do meu amigo João e que o ajudasse, restituindo-lhe toda a sua dignidade de ser humano.
Depois, entrei em contacto com todos os meus amigos, irmãos e familiares, e contei-lhes a triste história deste meu amigo, e pedi-lhes encarecidamente que orassem por ele. Usei o e-mail., o blogue, o telefone, tudo. O que é certo é que dentro de pouco tempo, havia muita, muita gente a orar por ele.
Pedíamos ao senhor, que lhe desse uma cama para dormir, uma casinha, pequenina que fosse,para ele se resguardar do frio, da chuva e do calor.
A partir daquele dia, todos os dias me encontrava com ele e aos poucos, ele foi-me contando toda a sua triste história de vida. E eu sempre a encorajá-lo, a dizer-lhe para ter confiança e ter fé em Deus.
Nascido e criado na terra, a vida sorriu-lhe e tornou-se empresário de uma oficina de mármores, que é do que quase toda a gente da aldeia vive, pois é uma zona de transformação de mármores.
Mais tarde rumou ao Algarve, onde teve vários negócios comerciais. Vivia bem, nessa altura e na sua casa havia sempre lugar para mais um, inclusive muitas pessoas da sua aldeia, a quem convidava para passar uns tempos e aproveitar as belas praias do Algarve.
De um momento para o outro, como que por mistério… as coisas começaram a correr mal e ficou sem nada. Por lá ficou uns tempos a viver da misericórdia de alguns. Decidiu voltar á aldeia, sem nada, triste e deprimido.
Sem dinheiro, sem saúde, sem amigos, sem apoios… rapidamente se transformou num pobre, a viver da caridade alheia. A única coisa que possuía era uma velha camioneta de carga, dentro da qual viveu durante seis anos.
Um dia, eu ia a passar numa rua perto da minha casa, ia com o meu marido, a minha irmã e o meu cunhado, para almoçar-mos num restaurante ali perto, para comer um bom “cozido á portuguesa “, quando o vi sentado num degrau com a cabeça encostada á parede. Aproximei-me dele e vi que chorava convulsivamente, só, completamente só.
As pessoas passavam e ninguém ligava. Quando vi que chorava, o meu coração derreteu-se… abracei-o com muita força e chorei com ele, sentada no degrau. Já não queria saber do cozido á portuguesa para nada, eu queria era ficar ali com ele. Eu disse - lhe: Está muito triste não é? Ele acenou com a cabeça dizendo que sim. Perguntei-lhe se o poderia ajudar nalguma coisa e ele acenou a cabeça dizendo que não. Que só deus o poderia ajudar. Então levantei-me e fui andando e chorando até ao restaurante, onde a comida não me soube a nada, pois só me lembrava dele.
Criaram-se laços de afecto tão grandes… que ele para mim é como um irmão, um grande, grande amigo.
Entretanto voltei para a minha casa em Mira – Sintra e de vez em quando ia lá á aldeia. Passada cerca de uma semana, ao anoitecer, eu fui á janela olhar as flores e o jardim e, reparei numa luz acesa numa pequenina casa, que ficava junto á minha, mas que funcionou sempre como garagem, mas que agora alguém me tinha dito que a transformaram para a arrendar aos emigrantes que vieram de vários lugares.
Quando vi a luz acesa, fiquei muito contente, tão contente, que fiquei a imaginar quem seria que iria lá viver. Bom, fui dormir e no dia seguinte ao passar á porta para ir tomar o café, qual não é o meu espanto quando vejo sair de lá o meu amigo João, muito bem arranjado, barba feita e com sorriso no rosto. Eu não queria acreditar! Ele tinha finalmente uma casinha! Convidou-me para entrar, e mostrou-me uma cama confortável, com lençóis limpinhos, cobertores quentinhos. Olhando á minha volta, não lhe faltava nada!
Disse-lhe então: Deixe-me abraçá-lo! Porque eu estou muito feliz.
Quando cheguei a casa, ajoelhei no mesmo lugar quando supliquei misericórdia, e com a voz entrecortada por muitas lágrimas, agradeci, agradeci, ao meu Deus.
Nós orámos, e o Senhor usou uns sobrinhos dele, para lhe proporcionar aquela casa e aquele bem - estar. Do Centro de dia, vêm todos os dias trazer-lhe o almoço e o jantar; lavam-lhe e tratam-lhe das roupas e vêm á 5ª feira limpar-lhe a casa
Entretanto, como já tinha a casa, começámos a rogar ao senhor por trabalho para ele.
Passada uma semana , cheguei lá e ele não estava. Pensei que tivesse doente e estivesse no hospital, mas não, quando perguntei por ele, disseram-me que estava a trabalhar. Imaginem a minha alegria! Corri para casa e fui ajoelhar no mesmo lugar para agradecer.
Começámos então a orar para o Senhor cuidar da sua alma, e libertá-lo de todos aqueles maus pensamentos que o apoquentavam. Daí a uns dias ele veio dizer-me que gostava muito de ter uma Bíblia, Claro que lhe arranjei logo uma Bíblia e fui entregá-la no café, onde ele estava á mesa com um grupo de amigos. Ficou tão contente, tão contente!
Depois disso vendo-me dirigir para uma casa de uma família crente, onde se realizam cultos todos os domingos á noite, disse-me que gostaria de lá ir. Eu respondi-lhe que teríamos todo o gosto em recebê-lo lá.
Passados uns dias ele apareceu e gostou muito de estar lá, e agora vai sempre que pode. Ali, arranjou mais um grupo de amigos e irmãos.
Agora, estamos a orar para que o Senhor complete a obra na sua vida, salve a sua alma, e lhe tire da mente alguns pensamentos ruins que ainda o perturbam.
O meu amigo João, parece outra pessoa! Não tem nada a ver com aquele João que eu conheci sentado ao balcão do café, naquela 2 ªfeira do mês de Agosto, do ano 2007.
Porque é que vos conto isto tudo?
È apenas, e tão - somente, para vos mostrar, e provar… que o nosso Deus, é Deus de Amor e de infinita Misericórdia! E que responde ás nossas orações, quando são feitas dentro da sua vontade!
A Ele toda a Glória! Todo o Louvor! Toda a Adoração!
Pelos séculos dos séculos Ámen
14 comentários:
Oh Querida Irmã! LOUVADO SEJA O NOSSO DEUS! O Senhor escuta as nossas orações. :)
Que o Senhor continue a Sua boa obra na vida deste seu amigo irmã! Ele irá aceitar o Senhor Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador! Em Nome de Jesus isso irá acontecer! Oro por isso também!
Também eu tenho tanto a agradecer ao Senhor! Principalmente agradeço-Lhe pela Sua Fidelidade na minha vida. A ELE seja dada toda a Honra, Glória e Magestade.
Tenha um Santo Domingo minha Querida amiga e irmã. :)
Tenho andado ausente, muito trabalho, quase não tenho tido tempo para a Internet, mas está no meu coração :)
Flor deixa um beijinho doce
Amém ! amém e amém !...lindo testemunho.
bjkas no seu coração
Que história mais linda! Que Deus continue a dar-lhe este coração cheio de amor e compaixão.
Eu já cumpri o desafio que me entregou e repassei para mais 7 amigas.
Tenha um domingo abençoado por Deus.
Li toda a história com atenção, comoção... Cada palavra encheu o meu coração de compaixão, gratidão e louvor ao nosso Deus infinitamente amoroso, terno, generoso e misericordioso.
Viviana, como admiro a sua fé, compaixão e amor pelo próximo!
Estas histórias engrandecem-nos, enriquecem a nossa humanidade e espiritualidade; abrem os nosso corações para realidades tão próximas e evidentes, mas para as quais, a maior parte das vezes, fechamos os olhos e tapamos os ouvidos.
Abraço fraterno, querida irmã em Cristo.
Quantos "Joões" não passam ao nosso lado, convivem connosco, fazem parte da nossa vida.
Mas muitas vezes, preferimos não os ver, porque para isso era necessário desinstalarmo-nos do nosso eu, do nosso comodismo, da nossa vida tão certinha.
Optamos quase sempre por desviar o olhar e fazer que nada vimos.
Dá-nos senhor, o sentido da responsabilidade para com o outro, nosso irmão.
Tendo em conta o Evangelho de hoje, seria como construir a nossa casa sobre a rocha firme, que nem ventos nem tempestades a derrubam.
Bom Domingo
R.Irene
Boa tarde Viviana, querida maninha.
Gostei muito de ler a história do Sr.João. Até porque estive à tua espera enquanto falavas com ele; estava curvadinho naquele degrau, e tu vieste de lá a corar. chorar. Telefonaste a meio munda, a mim também várias vezes, para orar por assuntos específicos acerca dele; também já vi a casinha dele, e tenho assistido ao teu contentamento.
Em certos problemas graves... cirurgias etc. Tu costumas telefonar a vá rias pessoas (a mim também) para orarmos todos há mesma hora, pelo mesmo assunto, para a prece ter mais força.
descansa bem.
Um xi-coração apertado da tua mana.
Olá, querida Flor,
Sim,, o Senhor escuta e responde ás nossas orações!
Glória ao seu Santo Nome!
Agredeço do coração, as orações por o meu amigo João.
Ele precisa muito delas.
Espero que tenha tido um domingo abençoado.
Eu tive.
Sabe que recebi um e -mail da Maria José?
Fiquei muito contente!
Já lhe respondi.
Tenha uj lindo dia.
viviana
Olá, querida Alice,
Muito obrigada!
Espero e desejo que tudo possa ir bem consigo.
tenha um lindo dia
um abraço carinhoso
viviana
Olá Rosângela,
Obrigada pela visita e pelas suas palavras.
Já fui Ler o "seu desafio" e achei muito interessante, bonito!
Desejo que tenha um lindo dia
viviana
Olá meu querido irmão e amigo Paulo,
Na verdade,o nosso Deus é o mesmo ontem, hoje e eternamente!
Quando o nosso Querido Mestre e Senhor Jesus Cristo disse:
"Pedi, e dar- se - vos -á...
Ele estava a incentivar-nos a pedir!
Quanto á minha fé, compaixão e amor ao próximo"... nada disso é mérito meu!
È tão somente "fruto" do Espírito Santo de Deus que habita em mim.
Creio que é fruto natural, de quem vive em sintonia com Deus.
Mas, ai de mim!
Quão fraca e falível sou!
Tenha um lindo dia.
um abraço carinhoso
viviana
Olá Rosa,
Obrigada pela visita e pelas suas palavras.
Tem razão: Quantas vezes somos que indiferentes á dor e sofrimento alheios!?
Que o nosso bom Deus e Pai nos desperte e ajude, a olhar "o próximo" como a nós mesmos!
Um grande abraço
viviana
Olá minha linda maninha Esperança,
Sim, tu conheces muito bem esta história...
Na verdade, o nosso bom Deus foi muito gracioso para com o meu amigo João.
Foi... e ´continuará a ser... porque Ele nunca deixa uma obra inacabada.
Estou certa que Ele vai "restaurar",
e salvar a vida e a alma do meu
beijinhos para ambos
vivianaamigo.
Amem.
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