quarta-feira, 11 de março de 2009

"São Paulo e as mulheres" - Por Anselmo Borges


Anselmo Borges

Li este artigo de opinião no Diário de notícias do passado sábado, e considerando que ele poderá suscitar o interesse de alguns amigos que por aqui passarem, tomei a decisão de aqui o publicar.

Desde já esclareço que está longe de mim querer provocar qualquer polémica, apenas
o faço por mero interesse infornativo.

"O comportamento subordinado da mulher
não se deve a Paulo
mas a outras lutas e influências"

«Nos casamentos, constato com satisfação que as noivas rejeitam como leitura da Missa um dos textos propostos, da Carta aos Efésios, atribuída a São Paulo. Diz assim: "As mulheres submetam-se aos seus maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher. Como a Igreja se submete a Cristo, assim as mulheres, aos maridos, em tudo."
Na Carta aos Colossenses, também se lê: "Esposas, sede submissas aos maridos, como convém no Senhor." E na Primeira Carta a Timóteo: "A mulher receba a instrução em silêncio, com toda a submissão. Não permito à mulher que ensine, nem que exerça domínio sobre o homem, mas que se mantenha em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva." Na Primeira Carta aos Coríntios: "As mulheres estejam caladas nas assembleias, porque não lhes é permitido tomar a palavra e, como diz também a Lei, devem ser submissas."
Aí estão os textos fundamentais a partir dos quais São Paulo foi julgado como misógino e responsável pela situação de submissão das mulheres na Igreja e na sociedade. No entanto, tornou-se hoje claro que este preconceito repressivo e negativo é injusto. Quando comparamos a imagem que Paulo tem da mulher com a dos seus contemporâneos, concluímos mesmo, como escreve Stephen Tomkins, que Paulo é dos "escritores mais liberais da Antiguidade e que dificilmente merece uma crítica tão dura".
Na Grécia e em Roma, as mulheres não eram consideradas pessoas, não tendo, portanto, direitos. "Calar é a grande honra de uma mulher." Aristóteles escreveu que "o homem é por natureza superior e a mulher, inferior; ele domina e ela é dominada". Os homens judeus agradeciam diariamente a Deus não os ter criado mulher, e o testemunho de uma mulher não era aceite em tribunal. Lê-se no livro bíblico de Ben Sira: "Menos dano te causará a malvadez de um homem do que a bondade de uma mulher."
São Paulo fez uma experiência avassaladora, que transformou, de raiz, a sua vida: Deus não abandonou à morte Jesus crucificado. Que vale um morto? Que vale um crucificado? Então, se Deus o ressuscitou, não foi pelas suas qualidades. Assim, Deus está do lado dos abandonados e excluídos e, portanto, todos valem diante dele. Paulo intuiu e experienciou a dignidade infinita do ser humano, seja quem for. Daí ter escrito esta palavra decisiva, na Carta aos Gálatas: "Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo."

E tirou as conclusões práticas. Formou comunidades cristãs carismáticas. Reuniam-se em casa de um cristão para celebrar a Eucaristia. Quem presidia era o dono ou dona da casa, de tal modo que nada impede pensar que, no princípio, mulheres presidiram à celebração eucarística.O facto de Paulo se dirigir também a mulheres casadas com não cristãos indica que as recebia na comunidade enquanto autónomas, como os homens, independentemente dos maridos.
No último capítulo da Carta aos Romanos, saúda 16 homens e 8 mulheres. Lá aparecem Febe, que "também é diaconisa na igreja de Cêncreas"; Priscila, "minha colaboradora"; Maria, "que tanto se afadigou por vós"; Trifena e Trifosa, "que se afadigam pelo Senhor"; "a minha querida Pérside, que tanto se afadigou pelo Senhor". Merece menção especial uma apóstola: Júnia, "tão notável entre os apóstolos".

Do confronto destes textos, conclui-se que Paulo não pode ser acusado de misoginia. O que se passa é que das 13 cartas que lhe são atribuídas, ele só é autor de 7: Primeira aos Tessalonicenses, 2 aos Coríntios, aos Filipenses, a Filémon, aos Gálatas, aos Romanos. As outras 6 - aos Colossenses, aos Efésios, Segunda aos Tessalonicenses, 2 a Timóteo, a Tito - são pseudopaulinas, isto é, dependem da "escola paulina", mas ele não é o seu autor. Ora, os passos citados, exigindo a subordinação e o silêncio da mulher, pertencem às pseudopaulinas. Quanto ao passo da Primeira Carta aos Coríntios, aceita-se hoje que é uma interpolação posterior, pois só assim se percebe que antes refira "a mulher que reza e profetiza".

O comportamento misógino e subordinado da mulher não se deve a Paulo, mas a outras lutas e influências.»

Anselmo Borges

Padre e Professor de Filosofia

6 comentários:

Anita disse...

Tem gente que é anjo mesmo sem asas formosas…
Gente que espalha alegria fazendo coisas maravilhas!


Um dia lindo amiga.

Sabe Viviana há 15 dias atrás quando tivemos cá em casa mais uma reunião de casais o pastor Valdemar falou desse texto que ainda hoje mesmo aos crentes faz muita confusão com "essa coisa" da submissão da mulher. Pensa-se logo em que a mulher é um "capacho" do homem, quando na realidade a ideia é ser a auxiliadora, aquela que foi criada da costela de Adão e que por isso tem um valor tremendo.

Que Deus possa abençoar os casais e os seus casamentos.
Beijinhos.
Fique bem. Fque com Deus.
Anita (amor fraternal)

Pedro Leal disse...

Como diz a Palavra, devemos analisar tudo e reter o que é bom. Nesse sentido, e para aproveitar o melhor do artigo, convém lembrar que algumas das afirmações que o Padre Anselmo Borges faz como se fossem verdades indiscutíveis, por exemplo, sobre a autoria das cartas paulinas, são apenas uma das linhas de pensamento dentro da história e da teologia, no caso, a liberal. Também é importante lembrar que o Padre Anselmo Borges não aceita a Bíblia como Palavra de Deus, no sentido que os evangélicos aceitam.

Rosa disse...

Olá viviana
Na cultura judaica a mulher não tinha qualquer importância, ainda hoje continua acontecer ...
Mas também sabemos que Jesus contrariou essas regras.
A mulher para Ele tinha igual valor, conhecemos algumas passagens bíblicas que nos mostram isso mesmo.
Falou com a Samaritana
Defendeu a mulher adultera.
Esteve em casa de Marta e Maria.
Foi confidente de Jesus, esteve presente na crucificação, foi a primeira a receber a noticia da Ressurreição e a leva-la aos outros, Maria Madalena.
E outras mais....
Portanto Viviana, temos muito valor aos olhos do Senhor:)

Tenha uma boa noite
Beijos

Viviana disse...

Querida Anita,

Obrigada pela alegria e beleza que sempre as suas palavras aqui deixam, boa amiga.

Quanto ao texto, eu não tenho nenhuma dúvida de que para o Senhor Deus - Pai - Criador, nós as mulheres, somos valiosíssimas.

E saber disso é muito bom.

Um grande abraço, amifa linda

viviana

Viviana disse...

Olá Pedro,

Sim, tu tens razão.

Temos que fazer como os Bereanos... examinar tudo e reter o bem.

Para mim a Papalvra de Deus é a Palavra de Deus... e qualquer descoberta que faça, que tente dizer o contrário...claro que veememtemente a rejeitarei.

Um beijo

mãe

Viviana disse...

querida Rosa,

Que bom que o nosso Mestre e Senhor Jesus Cristo, veio levantar e dignificar a mulher.

È verdade o que a Rosa diz:

Há nos evangelhos tantas e tantas descrições do relacionamento belo e perfeito de Jesus com as mulheres.


um beijo, boa amiga

Uma boa noite de descanso

viviana
Quão gratas lhe devemos nós ser!?