segunda-feira, 25 de outubro de 2010

As azeitonas do caminho


Azeitonas iguais ás da minha infância.

Ha uns dias atrás, eu, o Jorge e o Zé, fomos caminhar um pouco - cerca de duas horas - aqui á volta do nosso bairro, tendo parado junto a um muro para lá do qual "andou o fogo", no verão passado. Quando contemplávamos os estragos feitos, de repente, olhando para o local que os meus pés pisavam, chamou-me a atenção a quantidade de azeitonas pretas, maduras, que estavam caídas no chão, muitas delas já pisadas pelos transeuntes. Apercebi-me então que uma linda oliveira, carregada de frutos, tinha escapado á destruição pelo fogo.
Ao olhar a árvore lembrei-me que estamos no final do mês de Outubro, quase princípios de Novembro, altura em que se colhem as azeitonas.
Num abrir e fechar de olhos, eu volvi á minha infância, em Leiria, onde cresci, e onde havia muitas, muitas oliveiras, por todos aqueles campos, e também, de uma maneira especial, á beira dos caminhos de terra batida, por onde passávamos tantas vezes.
Eram tempos difíceis para a nossa família. Por causa da guerra não pudemos voltar para a nossa chacara na Argentina; o dinheiro que os meus pais trouxeram tinha-se esgotado e o meu pai tinha dificuldade em conseguir um trabalho melhor do que aquele em que se ocupava, operário numa fábrica de serração de mármores.
A situação aguçava o engenho. O meu pai lembrou-se que poderíamos aproveitar todas as azeitonas, que durante a noite, o vento e a chuva atiravam para o caminho.
Eu tinha na altura uns dez anos e o meu irmão sete. O pai ordenou que nos levantássemos bem cedo, aí por volta das seis da manhã, para ir-mos apanhar as azeitonas do caminho antes que as corroças e as pessoas as pisassem.
Custava tanto sair do quentinho da cama para ir enfrentar o frio, o vento e a chuva!
Mas, nem pensar em dizer não, tinha que se ir mesmo.Nesse tempo, os meninos e as meninas pequenas, já tinham grandes responsabilidades nos trabalhos nas hortas, no campo, e no tratamento dos animais domésticos. Os meninos de hoje não imaginam sequer como era difícil a vida das crianças desse tempo.
Lá ía-mos nós, com o cestinho no braço, abaixando-nos aqui e abaixando-nos ali, catando as azeitonas no meio das ervas das beiras do caminho e no próprio caminho.
Isto durava até o proprietário das oliveiras decidir fazer o "varejo" e a apanha, talvez umas duas semanas.
Conforme trazíamos as azeitonas estas eram despejadas em cima de um pano grande de linhagem até juntarmos todas. A seguir, eram colocadas em sacos e carregadas aos ombros até á cidade, onde havia o lagar. Eram então pesadas e consoante o peso, assim se recebia o azeite correspondente. Não trazíamos o azeite das "nossas" azeitonas, mas um azeite já pronto que o lagar tinha lá.
Tanto quanto me lembro, conseguíamos aí á volta de uns dez a quinze litros de azeite, o que era uma grande ajuda na nossa economia doméstica.

8 comentários:

NUMEROLOGIA E PROSPERIDADE disse...

Tinha uma azeitona no meu caminho.
No meu caminho tinha uma azeitons...
Eu nunca vi uma oliveira de perto. Carregada, deve ser lindíssima.
FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... deseja uma boa semana para você.
Saudações Educacionais !

Maria disse...

Mas que lindas azeitonas, quase parecem bagos de uvas e adivinham-se gostosas.

Quanto às memórias, já sabe o que penso, são sempre bem-vindas, mesmo que sinal de dificuldades.

Lembro-me que, na minha infância, por vezes o jantar da minha mãe era sopa e pão com azeitonas.

Beijos,
Mimi

Anita disse...

Querida Viviana aqui na quinta eu e o meu marido já começamos no fim de semana passado a apanhar. Temos 36 oliveiras, e sei bem do que está a falar. No Domingo passado fomos entregar já ao lagar de Vila Chã 100Kg. O ano passado conseguimos apanhar 300Kg, ficando muitas azeitonas para consumo próprio. Cá em casa adoramos azeitonas e então temperadas por nós fica com outro gosto.
Aqui por cada 100Kg dão 9 litros de azeite. Vai ajudando bastante no consumo doméstico, pois o azeite tem outro gosto, é bem mais espesso e cheiroso.
O ano passado como estivemos a "limpar" muitas das oliveiras elas não dão fruto este ano. temos que ir sempre alternando de modo a termos azeitonas.
Infelizmente aqui à nossa volta os terrenos estão todos abandonados, tanto as vinhas como os olivais, é uma pena. Os "velhotes" vão morrendo e os filhos ou põem à venda ou arrassam com as árvores todas, que incrivel que pareça são para fazerem madeira para o Inverno. Como é possível...
Desculpe o longo testamento!
Beijinhos e votos de um maravilhoso dia.
Fique bem. Fique com Deus.
Anita (amor fraternal)

Viviana disse...

Olá, Silvana

Sim, de facto as oliveiras carregadas de fruto são árvores belíssimas.

Mas para mim, o mais lindo delas, são os enormes troncos milenares!
São sumptuosos!
Na aldeia há várias dessas oloveiras.
Sempre que passo lá, acarinho-as.

Já fui espreitar "FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER";reparei que há muitas coisas interessantes para ler e ver...lá.

Um abraço

viviana

Viviana disse...

Querida Mimi

Como sabe, Portugal é um país de Oliveiras.

Infelizmente, depois de entrarmos na União Europeia, há muitíssimos olivais e oliveiras por aí abandonadas.
Doi o coração ver.

Um beijo

viviana

Viviana disse...

Querida Anita

Tantas oliveiras!

Que bom!

Retalhar as azeitonas e curti-las em casa , é muito agradável.

Gosto muito de azeitonas, mas das nossas...das estrangeiras nem tanto.

Espero que a amiga se sinta melhor.

É assim de vez em quando vamos um bocadinho abaixo...
O que vale é que no outro dia já estamos mais arrebitadas.

Um beijo

viviana

Margarida Fernandes disse...

Viviana,

Obrigada por partilhar connosco mais uma experiência de vida.

Adoro azeitonas.

Beijinhos

Viviana disse...

Querida Margarida

Obrigada por essa disponibilidade de "ouvir contar".

Gosto de recordar.

também gosto de "dizer como era" para que se saiba.

Apesar de tudo, tive uma infância muito feliz.
Saudades imensas.

Uns pais maravilhosos.

Graças a Deus.

Um abraço

viviana