domingo, 3 de outubro de 2010

Dona Lisete versus Vice - Procurador Geral da República


Dr, Mário Gomes Dias - Vice-Procurador Geral da República.

Há já alguns meses que os média estão a chamar a atenção, para quem de direito, sobre a situação de ilegalidade do Vice - Procurador Geral da República Dr. Mário Gomes Dias, que atingiu a idade da reforma em Junho de 2010 e ainda se mantem em funções.
O Governo, por pedido feito pelo Procurador Geral Dr. Pinto Monteiro, apresentou sexta-feira passada na Assembleia da República uma proposta, de alteração á lei vigente, no sentido de os Magistrados do Ministério Público, poderem continuar em funções mesmo tendo atingido a idade da reforma (70 anos). Diz-se á boca cheia que esta alteração á lei seria mesmo á medida do Vice Procurador Geral Dr. Mário Gomes Dias.
A proposta não passou tendo sido chumbada pelo Parlamento.
Inquirido sobre a situação, o Procurador Geral Pinto Monteiro, informou que a lei seria cumprida, e a substituição do Vice - Procurador terá lugar oportunamente.
De salientar, que estão a ser postas em causa as acções levadas a cabo pelo Vice-Procurador de Junho até agora, como sendo ilegais e poderem vir a ser anuladas.

Este caso, que se arrasta há mais de três meses, fez-me lembrar do caso da Dona Lisete.

A Dona Lisete era uma senhora respeitável, natural da Guarda, filha de um dos Reitores do Liceu daquela cidade.
A senhora sentia vocação para trabalhar na comunidade, e depois de muita insistência, o pai permitiu que ela frequentasse na Direcçãoi Geral de Saúde em Lisboa, um Curso de Visitadora Sanitária, cuja função seria trabalhar com a população na área da saúde. Isto há muitos, muitos anos. Terminou o curso com sucesso e casou a seguir. Só que entretanto nasceram os filhos e o casal concluiu que seria bom a mãe ficar com eles em casa nos primeiros anos de vida. Assim aconteceu, o que fez retardar a idade com que a Dona Lisete começou a vida profissional.
A senhora, entre as várias actividades que desenvolveu, dedicou-se á vacinação de crianças na comunidade, num tempo em que a cobertura vacinal era bastante baixa. Deu-se de alma e coração ao seu trabalho.
Não sei dizer porquê mas apenas funcionaram dois cursos daqueles.
Entretanto, os Dispensários Materno-Infantis tiveram um grande desenvolvimento e receberam estas senhoras Visitadoras Sanitárias, que foram colocadas na Sala de vacinação.
Foi na sala de vacinação do Centro de Saúde da Amadora que eu conheci a Dona Lisete.Desde logo tornámo-nos excelentes colegas de trabalho e para além disso, eu tinha por ela uma grande estima e consideração. Era uma excelente conversadora. Pessoa muito educada e gentil, com quem dava gosto lidar.
Era cerca de vinte anos mais velha do que eu, tendo nesta altura cerca de setenta anos.
Como começou a trabalhar um pouco tarde, aos cerca de setenta anos ainda não tinha todos os anos de serviço necessários para se poder reformar, e por isso foi ficando, foi ficando, até que chegou o dia em que fez setenta anos, e segundo a legislação em vigor, não poderia trabalhar mais, ainda que o desejasse.
Recordo que nesse dia que fez setenta anos, eu estava junto dela, na sala de reuniões, não muito distante da senhora telefonista a Dona Alda. Tocou entretantoo telefone e a Dona Alda chamou-a para atender ali mesmo, porque era para ela, e ela atendeu.
A conversa foi curta e quando a Dona Lisete pousou o telefone, sentou-se numa cadeira, mudou de semblante e começou a chorar.Triste, muito triste. Eu fiquei preocupada e tentei ajudá-la perguntando-lhe o que acontecera. Ela fitando-me disse: "Veja bem senhora enfermeira Regueiras: Era dos serviços centrais da A.A.R.S de Lisboa, informando-me que como eu fiz hoje os setenta anos, amanhã já nãoposso vir trabalhar. Nem uma palavra de apreço, por tantos anos de trabalho que executei com tanta alegria e satisfação; Nada, nada, a não ser escorraçarem-me como alguém que já não presta e que se pode e deve ir embora."

Abracei-a. Tentei consolá-la, falando-lhe de como no Centro de Saúde toda a gente a admirava e respeitava muito e que todos ali valorizaram o seu excelente trabalho. A Dona Lisete, apertou-me a mão e sorriu com os olhos tristes e vermelhos de chorar.
Isto já aconteceu há quase vinte anos, no entanto nunca me esqueci deste caso e veio-me agora mais uma vez á memória ao tomar conhecimento do caso do Vice - Procurador Geral da República,

5 comentários:

Maria disse...

Gostei da história da D. Lisete e da homenagem que lhe faz.
Quantas injustiças têm sido feitas à vocação e bom desempenho de gente boa; outros, pululam na impunidade; outros vivem no reino da "cunha". Faz parte da história dos homens!
Um abraço.

helia disse...

Atingir os 70 anos e ter que abandonar a sua profissão , principalmente quando ainda se tem força e vontade para continuar a trabalhar , deve ser muito triste ... Mas é assim , na função pública , aos 70 anos o funcionário é reformado por atingir o limite de idade. Mas há uma pergunta que faço : porque é que no Governo há candidatos à Presidência da República com mais de 70 anos ? A lei do limite de idade não devia ser igual para todos?
Ao ler a história da D. Lisete senti uma grande ternura por ela!

Pelos caminhos da vida. disse...

Que essa semana seja repleta de muitas bençãos, luz, paz, amor e saúde para todos nós amiga.

Muito bom te vc Pelos Caminhos da Vida, obrigadaaaaaaaaaaaaaa

Adoro vc amiga!

beijooo.

Unknown disse...

é hábito nesse país só reconhecer os incompetentes.
Beijo e boa semana

Michele Pupo disse...

São incongruências governamentais.
Aqui, há ainda outra: os jovens não podem trabalhar com carteira assinada antes do 16 anos. Só que muitos, por este motivo, envolvem-se com tráfico de drogas e roubos para poder terem seu próprio dinheiro. Não seria mais fácil permitir que realizassem pequenas atividades que não interferissem no desenvolvimento físico e escolar, mas que proporcionasse uma renda?!

É uma lástima.

Um abraço minha amiga!