sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Folhas -Um poema de Graciete Pio



Folhas

Folha de papel,
Folha escrita ou folha em branco...
Folha que vai de mão em mão
E traz o riso, a vida ou dor e pranto
Ao mais feliz e ansioso coração...
Folha de Hera viçosa e verdejante
A enfeitar muros velhos nos caminhos
E as árvores rodeando em doce enleio,
Levada pelo saudoso viajante
Á esposa com um mundo de carinhos...
Colhida por namorados em passeio...
Folha de árvore caindo tristemente
Sob a pressão de um vento embalador
Que sopra lenta, calma, suavemente...
Folha de livro, nosso amigo melhor
Nas noites excitantes, sem sono,
como nos dias de mísero abandono...
Dupla página de assunto vário...
Folha de férias, alegria do operário...
Folha de aço cortante numa espada
Fria e cruel, pelo homem desembainhada;
Causa de lágrimas, de dor e de lamento,
Em vez de amor trás morte e sofrimento...
Trinta surpresas: folha de calendário,
Que tráz em si destino oculto vário...
Folha que enfeita a flor tão delicada
E lhe empresta a leveza de uma asa,
Ornamentando desde a mais cuidada
Á mais triste e humilde campa rasa...
Que espécie de folha sou eu?
Folha seca? Folha verde?
Folha que se desprende e que se perde
No vácuo imenso do azul do céu?

...Eu quero ser a folha limpa, em branco,
Folha espaçosa com a imensidade,
Na qual a mão divina do Deus santo
Escreva o Bem, o Belo e a Verdade!

Graciete Pio . no livro: Perfume do Céu

Nota: Cresci com a Graciete nos bancos da Igreja Baptista de Leiria.

2 comentários:

...EU VOU GRITAR PRA TODO MUNDO OUVIR... disse...

Viviana!

Belíssimo poema!

Um presente ter convivido com a poetisa!!!

Lindas analogias!

Um beijo,carinho e saudades!

Sonia Regina

esperança disse...

Poema cheio de sentido da vida, até arrepia! Folhas, vidas… Umas nos verdes anos da mocidade, outras na pujança de vida, folha quase seca da velhice, folhas, folhas, folhas, folhas… E ainda a folha que se desprende, e voando vai, só Deus sabe para onde.