quinta-feira, 29 de julho de 2010
Um poema como presente
O sr. Helder serrando a nespereira.
Ás vezes, a forma como Deus actua para connosco, chega a ser engraçada, faz-nos sorrir. Gosto de pensar que Ele é um Deus bem disposto, sorridente e bem humorado.
Pude constatar isso num dia da semana passada.
Há alguns meses que pensámos fazer obras de reparação na casa da aldeia. Lá, há a tradição de pelo S. João (S. João Degolado) - S. João Baptista - toda a gente "caiar" - hoje, pintar...as casas, todos os muros e paredes que dão para a rua.
Se alguém não caiar...já é censurado.
Mas nós, não era tão somente para "na terra onde viveres faz como vires fazer", mas é por que havia a nítida necessidade de obras.
Eu fiquei encarregada de contactar o Sr. Coelho, o pedreiro que fez as últimas obras lá. Porém, por qualquer coisa estranha, eu esquecía-me sempre. O tempo foi passando, passando e nada, eu não falei com o sr. Coelho. Quando tentei telefonar ninguém atendia. Eu até já não me sentia muito bem perante os meus irmãos.
De salientar aqui, que o dito sr. Coelho, não era nada perfeito naquilo que fazia; deixava muito a desejar. Mas como já tinha feito as obras da outra vez...
Pois bem, na semana passada quando chegámos á casa da aldeia (vamos lá uma vez por semana) estava mesmo junto á nossa porta a pessoa que precisávamos!
Não o conhecía-mos, nunca o tínhamos visto, mas era mesmo a pessoa que Deus tinha escolhido para nos fazer as obras.
Era pedreiro e estava a concluir a reparação da casa pegada á nossa.
Despertou-nos a atenção a perfeição do trabalho. Estava impecável.
Enquanto eu estava lá atrás, no pátio, a minha irmã meteu conversa com ele pondo-lhe da hipótese de ele nos fazer as obras.
Em pouco tempo estava combinado.
Três dias depois já as estava a iniciar.
Trata-se do Sr. Helder. Um homem na casa dos quarenta anos, magrinho, estreitinho, carinha pequena, mas uma pessoa linda, excepcional mesmo.
Trabalhador até dizer "baste... aguenta o sol nos seus 39, 40 graus..."perfeito no que faz, com ideias, sugestões e pareceres muito interessantes. Simpático e honesto.
Disse-nos que quando fez a quarta classe queria muito continuar a estudar, mas como tantos...os seus pais precisaram dele para trabalhar. Desde os 11 anos que trabalha na construção cívil, muito tempo como empregado, há alguns anos por conta própria. Sábado passado, quando trabalhava, recebeu um telefonema da mãe que estava a sentir-se mal; parou tudo e correu com ela para o hospital, Felizmente não foi nada de grave, apenas por ter andado ao sol.
Anteontem, reparei que o nosso poeta da aldeia, o Chico da Carreira, que já aqui apresentei, foi ter com ele lá á minha casa, Vi que estiveram a conversar algum tempo e que o poeta lhe apresentava um papel escrito, grande, que ele ouviu ler com muita atenção.
Daí a pouco o sr. Helder disse-nos que teria de sair um pouco mais cedo pois teria que ir a Sintra, ultimar a prenda que o filho de seis anos - Mário - iria oferecer á avó, nesse dia em que se celebrava o dia dos avós.
Não é que o sr. Helder, pediu ao poeta para lhe compôr um poema dedicado á sua mãe, para o filho Mário oferecer á avó como prenda no dia dos avós?
Foi então a Sintra procurar uma moldura, um quadro, no seu dizer, para o poema.
Achei tão lindo!
O sr. Helder, pedreiro, trabalhador da construção cívil a vida toda...com esta fina sensibilidade de querer que o seu filho de seis anos oferecesse um poema á avó!
Felicitei-o e dei-lhe os meus parabéns.
No dia seguinte perguntei-lhe se a sua mãe tinha gostado da prenda; ele sorrindo feliz, disse que sim, que ela gostou muito.
2 comentários:
Olá Viviana!
Gostei demais da história!!
Nós somos nosso interior e não o que expomos!!
Uma bela história de sensibilidade!
Um beijo!
Sonia Regina.
Um presente lindísimo com uma simplicidade que me fez pele de galinha.
Beijo.
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