quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Ao que se chegou! O Galo poderá ser proibido de cantar!


O galo que poderá ser proibido da cantar,  com a sua dona.

Cresci "no meio da criação"(Coelhos, patos e galinhas). Sorrio, ao lembrar-me de como a minha irmã mais nova, a Teresinha, gostava tanto, mas tanto, das galinhas, dos galos e dos pintaínhos, que andava sempre com eles ao colo. E um pormenor interessante: Cada um de nós, os filhos, escolhia a sua galinha ou o seu galo, ou o seu frango, de estimação. Dávamos-lhe um nome e assim ficavam a chamar-se até ao fim.Quando eu penso que as últimas galinhas que tivemos morreram de velhas, de morte natural... entendo melhor como amávamos e tratávamos bem a "criação". A certa altura também tínhamos patos, e nós crianças, sabendo que eles apreciavam tanto a água, e estávamos londe do rio, um belo dia, decidimos meter os patos num saco de linhagem e com eles ás costas, levámo-los até á nossa horta, á beira do Rio Mourão. Ali, numa represa onde o meu pai "juntava" a água para regar, colocámo-los lá dentro onde eles alegremente mergulharam  e grasnaram de satisfação. O pior foi retirá-los de lá...o rio era fundo e eu não podia entrar lá dentro. Socorri-me de uma cana comprida e só assim os consegui retirar do seu banho. Um estava um pouquinho tonto, dado que a cana, ás tantas, atingiu-lhe a cabeça. Porém logo recuperou.
Recordo como era para mim agradável, por volta das seis da manhã, acordar com o cantar dos galos. Não só o meu galo, mas o galo de toda a gente, ao redor. Nessa altura, quase todos tinham "criação". Eu acordava, pensava que o dia estava prestes a chegar, virava-me para o outro lado e continuava a dormir. Foi assim anos e anos.

Lembro-me que quando vim morar para Mira-Sintra, há cerca de 40 anos, aqui bem perto da minha casa, muitas pessoas tinham pequenas hortas onde tinham a "sua criação", e assim, continuei a ter o despertar dos galos.
Recordo que alguns cantavam também por volta da meia-noite. Nunca porém por nunca ser, o cantar dos galos me incomodou; pelo contrário, alegrava-me.
Hoje, e desde há há bastante tempo, nunca mais acordei com o cantar do galo. Creio que a pouco e pouco as pessoas daqui da zona deixaram de ter "criação". Dá trabalho e é dispendioso, e por outro lado, as pessoas vivem económicamente melhor, e podem comprar os ovos, bem como a carne de frango.

Agora perguntarão os amigos: "Mas porque está ela a falar disto?
è, porque  ante-ontem, numa reportagem na televisão, feita na vila de Resende - Viseu, passaram a notícia de que um galo poderá  ser proibido de cantar, porque os vizinhos fizeram queixa á Guarda Nacional Republicana, dizendo que o galo perturbava o seu sono. E parece que já são várias as pessoas a aderir á queixa. A dona do bicho diz que tem "criação" há mais de dez anos e nunca ninguém se lembrou de fazer qualquer queixa,  e explicou que a "criação" faz parte da  sua economia doméstica.

Eu, sinceramente, fiquei  espantada. Ao que nós chegámos! Como eu gostaria de continuar a ouvir o cantar dos galos, por aqui onde moro! Sinto uma saudade imensa e uma falta muito grande!
Tenho cá um pressentimento, tendo em conta"a cultura actual", em que as crianças e os jovens crescem sem qualquer contacto com a natureza, não conhecendo nem sequer o nome de uma planta, como o feijoeiro, ou o tomateiro...mas em que passam hoas e horas diante da televisão a vêr programas que praticamente em nada os ajuda, ou então, de volta dos telemóveis, ou da consola a jogar jogos estranhos e nada pedagógicos... pressinto que os vizinhos vão ganhar a causa e o alegre e feliz galo vai ser silenciado e acabará num arroz de cabidela.
Tenho pena! mesmo muita pena!

2 comentários:

Lilasesazuis disse...

Olá, Viviana,

Meu Deus, cada absurdo!!

Concordo com você em tudo o que disseste.

As pessoas preferem uma vida artificial, que traz inúmeras doenças e distúrbios comportamentais,
à simplicidade do viver cercados pela natureza!!

Quisera eu ter um lindo galinho para encantar minhas madrugadas e manhãs!!

beijinhos,

Lígia e =ˆˆ=

Viviana disse...

Querida Ligia

É isso aí, amiga.

Vai-se perdendo a noção do valor do contacto com a natureza.
Um beijo
Viviana