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Deixem a casa velha! Que os pedreiros
não lhe tirem as rugas nem as gelhas.
Que não limpem de urtigas os canteiros,
que lhe deixem ficar as velhas telhas.
Deixem a casa velha! Que a não sujem
com óleos e com tintas os pintores.
Que lhe deixem as nódoas de ferrugem,
os velhos musgos, as cansadas flores.
Que não fiquem debaixo do cimento
mais de cem anos de alegria e dor.
Não lhe pintem a chuva, o sol, o vento,
que a cor do tempo é assim: vaga e incolor.
Que tudo fique assim, parado e absorto,
no tempo sem limites, sempre igual.
Ah, não, por Deus! Como se faz a um morto,
não a sepultem sob terra e cal!
Não fechem as janelas mal fechadas,
ouçam da brisa o tímido lamento,
deixem que a vida e a morte, de mãos dadas,
vão com seu passo reflectido e lento.
Não endireitem as paredes tortas
nem desatem, da aranha, os finos laços.
Abram ao vento as desmanchadas portas,
ouçam do tempo os invisíveis passos.
Deixem que durma, quieta, ao sol do Outono,
velada pela flor, o vento, a asa.
Será talvez o derradeiro sono…
Que importa? Morra em paz a velha casa.
Fernanda de Castro, in «Asa no Espaço», 1955
5 comentários:
Bom fim de semana. Aqui sao 5h3om da manha e gostei de comecar o dia com este poema de Fernanda de Castro.
Fernanda de Castro imortal poetisa que eu amo.
Obrigada por esta poesia linda.
Beijo.
Vivi, minha querida!
Que belo poema que a amiga nos trouxe!
Tenha um fim de semana abençoado,
beijo carinhoso,
neli
Viviana!
Belo poema!
As rugas das velhas casas são como aquelas em nosso rosto,todas contam sua história e mexer nelas é como tentar esconder um tempo de aprendizados...
Muito bonito!
Sonia Regina
Viviana rima com genciana
que rima com valeriana
que rima com...Liliana
Que lindo, menina
a gente rima com flor, e
ainda combina.
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