sábado, 27 de março de 2010

"A meus irmãos" - Sebastião da Gama


Imagem da net

«Batam-me à porta
os que andam lá por fora, à neve;
batam
os que tiverem frio ou sede;
os que sintam saudades de um carinho;
os desprezados;
os que há muito não vêem uma flor
e encontram só poeira no caminho;
os que não amam já nem já os ama
ninguém;
os esquecidos de como se sorri;
os que não têm Mãe…

Batam-me à porta os Desgraçados,
os que têm os dedos calejados
dos dedos ásperos da Miséria,
os que travam desordens nas tavernas
e brincam às facadas,
os que não têm abrigo nem Amigo,
os que o Destino escarrou,
os que não foram crianças,
os que nasceram num bordel
e por quem passam todos sem olhar.

Batei à minha porta, Irmãos,
entrai,
que eu tenho Amor pra vos dar…

E se eu também bater
(que eu também choro
muitas vezes, lá por fora;
também amargo tristezas;
que eu também sou Desgraçado)…
pois se eu bater,
vinde logo depressa abrir-me a porta;
aquecei-me no meu lume;
dai-me do pão que eu parti
e do Amor que vos dei…
como se fosse um de vós,
que eu também sou Desgraçado…

Ah! Se eu bater
(mas é preciso que eu possa
ter força ainda nas mãos),
por Deus abri a porta, meus Irmãos,
como se a casa fora vossa!»

(Sebastião da Gama)

1 comentário:

carmen disse...

Vivi:

Tem razão, a janela é linda!!!

E que tom mais lindo de azul.

bjs