sexta-feira, 26 de março de 2010
A Mina da Guimarota
Seria assim a Mina que eu deveria encontrar.
Clique em cima para ver melhor.
A luz que se vê é da máquina fotográfica.
A entrada da Mina
Pouco depois da Segunda Grande Guerra Mundial terminar, eu e a minha família mudámo-nos de Vilela, no Minho, para a cidade de Leiria.
Convém dizer que por causa da Guerra não pudemos regressar á Argentina, onde tínhamos a nossa vida e os nossos bens.
O meu pai estava á procura de trabalho, e como um seu familar radicado em Leiria, lhe dera indicações que talvez conseguisse trabalho por aqueles lados, partimos para lá.
Eu tinha então sete anos.
O meu pai, homem habituado a trabalhos duros, foi aceitando o que aparecia, e recordo que fez de tudo um pouco.Quatro filhos para criar, era coisa séria.
Foram anos bem difíceis, esses.
Habituados que estávamos a tanta fartura e a nada nos faltar, na nossa chácara em Misiones, estávamos agora em situação bem diferente.
Foi nessa altura que o meu pai foi trabalhar numa mina de carvão - a Mina da Guimarota. Distava do nossa casa cerca de quatro ou cinco quilómetros que eram sempre percorridos a pé.
Para o meu pai ter uma refeição "de comida de sal", como se dizia, eu fui incumbida de lhe ir levar o almoço. Devia ter cerca de 11 ou 12 anos.
Para chegar á Mina eu tinha que andar da Estação de Leiria até á cidade, e depois atravessar toda a cidade e por fim sair dela e entrar em caminhos de matas e pinhais, praticamente sem casas, até chegar á Guimarota.
Eu nunca lá tinha ido e não fazia a mais pequena ideia onde ficava.
Até sair da cidade eu conseguia orientar-me, o pior era depois. Perdia-me. Não atinava com o caminho. E triste, muito triste, voltava para casa com o cestinho do almoço no braço, e o meu querido pai, fazendo um trabalho árduo e esgotante no fundo da mina, acabava por ficar sem comer. Não havia lugar nenhum ali perto para comprar o que quer que fosse.
Quando chegava a casa com o almoço, a minha mãe ficava perturbada e ralhava comigo, porém nunca me castigou por isso.
Aconteceu várias vezes, até que o meu pai começou a ter que levar comida de casa. Não recordo bem o quê.
Cresci, e pela vida fora, sempre ficou em mim esta mágoa, uma espécie de remorso, por nunca ter conseguido encontrar a Mina da Guimarota.
Claro que os meus filhos conhecem esta história.
Há pouco mais de uma semana o meu Pedro, que é o mais velho, e que está a escrever um livro sobre a nossa família, convidou-me para ir com ele a Leiria e percorrer os lugares da minha infância, adolescência e parte da juventude.
Fiquei toda contente! Manhã bem cedinho lá partimos os quatro: o Pedro, o Zé, eu, e a minha irmã mais nova que nasceu em Leiria.
Organizado como é, o Pedro fez pela internet o roteiro da viagem.
Entrámos em Leiria pela parte norte. Verificámos que a cidade está tão desenvolvida e houve um tão grande crescimento que já une a cidade com o que eram os arredores.
Mal entrámos, vi uma enorme urbanização nova, e olhando leio numa placa de um prédio: Avenida da Guimarota.
Eu disse espantada: Olhem, aqui é a Guimarota!
Eu ainda não tinha percebido que foi de propósito que entrámos por ali, pois o Pedro queria fazer-me a surpresa de finalmente... eu saber onde ficava a Guimarota.
Ele levava o "croqui" todo certinho. Em breve estávamos a entrar numa rua estreita que nos levou direitinhos á Mina.
Eu não estava em mim!
Eu não queria acreditar! Eu ia finalmente saber onde ficava a mina que eu nunca encontrei!
Fica agora numa propriedade privada.
A entrada é um buraco do feitio de um retângulo no passeio.
Quem não souber não dá por ela.
Há umas escadas de ferro ferrugento nesse buraco que desce para um pequeno hall onde está a entrada da mina.
Tudo velho, muito velho! Tudo escuro, muito escuro! Assustador...
O Pedro desceu, e logo desci eu também. Estava tão curiosa de saber como era o local onde o meu pai trabalhou... O Zé e a Terezinha ficaram cá fora.
Quando eu desci por aquelas escadas todos ficaram preocupados que eu caísse.
Mas não, a minha experiência infantil de subir e descer árvores, de trepar aos sítios mais incríveis...valeu-me na hora.
A porta da mina estava aberta e eu entrei e comecei a descer, a descer, sem qualquer medo e sempre a querer descer mais um pouco. Era tudo muito escuro e não se via nada. Lá ao fundo, só escuridão.
Entretanto chega o proprietário da mina, pessoa muito simpática que descobre que eu estava lá dentro. Desce rápidamente dizendo-me para sair porque há dentro da mina um gaz mortífero.
Eu, contrariada, imaginem! Lá saí.
Ficámos dentro do rectângulo a conversar e tive então oportunidade de saber e conhecer muito acerca da Mina da Guimarota.
Ele disse-nos que basta ele entrar naquele retângulo ao pé da porta, para que quando chega cá fora sinta um enorme cansaço.
Eu não estava a cem por cento e receei por mim...tentei descontrair e vim para fora respirar ar puro, e logo estava bem.
Apreciei muito o gesto do Pedro em me ajudar a "libertar" do sindrome da Mina da Guimarota que me acompanhou toda a vida.
Agora, tudo está bem.Tudo está resolvido.
Eu já sei onde fica a Mina.
Nota:
Um dia destes escreverei um post acerca da história desta Mina, que se tornou muitíssimo importante, não só em Portrugal mas também no estrangeiro, de tal modo que há um esqueleto de Dinossauro encontrado ali, que tem o nome da mina.
4 comentários:
Perigosa a Aventura,mas muito interessante!Um beijo.
Olá Viviana querida.
Penso que o "vírus" foi para outro computador.
Já estava com saudades :))
Viviana, trabalhar nas minas é um dos trabalhos mais duros que conheço, dias a fio sem ver a luz do sol e mesmo a chuva, é aflitivo para mim.
Amiga desejo para vós, um bom fim de semana, repleto de bênçãos.
Beijos
Olá Rute
Sim, foi uma aventura!
Uma aventura que eu apreciei.
um beijo
viviana
Querida Rosa
Minha linda amiga
Que bom, que já mandou os virus para outro lado!
Estava a sentir a sua falta!
Quanto ao trabalho nas minas,é deveras um trabalho penoso e pesado.
Quando vejo imagens de mineiros nas minas...valorizo-os muito.
Tenha também um bom fim de semana
Um grande abraço
viviana
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